Minha vó e o concurso de enterradas do All-Star Weekend

João Lima
3 min readFeb 18, 2024

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Ontem, sábado, 17 de fevereiro, foi o dia da "resenha" do All-Star Weekend da NBA: Concurso de Habilidades, Concurso de 3 Pontos e, finalmente, o Concurso de Enterradas.

Pra quem é familiarizado com a liga, o All-Star Weekend é um evento de pura galhofa. Os jogadores vão realmente pra se divertir, aparecer e criar memes — a competição, quando acontece, fica pro último quarto do jogo das estrelas, que só acontece na noite de domingo.

Dessa forma, existe muito fã metido a purista que diz que não curte o evento. Mas, pra mim, ele sempre teve um significado especial.

Talvez tenha a a ver com a minha primeira memória de All-Star, com Kobe e Michael Jordan se enfrentando em 2003. Talvez tenha a ver com eu ter tido, durante muitos anos, numa fita VHS, o jogo de 2004 gravado.

Mas, pensando bem, apesar de vir desse mesmo ano de 2004, minha recordação é outra.

Era 14 de fevereiro de 04 e, estava eu, um jovem de 14 anos, sentando no sofá assistindo a noite de sábado desse final de semana.

Na época, a ESPN já transmitia todo o evento e, nessa ocasião, o agraciado por narrar tudo aquilo era João Palomino. Veja como as coisas mudam.

Mas eu só lembro disso porque, em determinado momento da noite, ouvi passos lentos subindo as escadas do sobrado onde morávamos.

Era minha vó. No alto de seu 1m47. No auge dos 82 anos. Amava ficar com o neto, assim como eu amava estar com ela. Costumo dizer que, antes da Catarina nascer, dona Maria era com toda certeza o maior amor da minha vida.

Dessa forma, corro eu para o computador. Naquela época, toda interação com a transmissão era feita através de um e-mail. Infelizmente, não tenho o registro aqui — acho que só criei meu gmail que uso até hoje no final daquele mesmo ano.

Mas foi. E, lá pelas tantas, João Palomino lê minha mensagem, claro, com referência à minha vó, e ainda faz uma piadoca: "Eita, dona Maria. Acordada até essa hora. Amanhã não vai ter café da manhã".

Enfim, uma besteira sem tamanho. Mas uma memória que me traz algumas lágrimas enquanto escrevo. Com saudade dela, com saudade, talvez, de ser um menino de 14 anos com muito futuro pela frente.

Amanhã vai ter café da manhã sim. Depois também. Porque a senhora sempre gostou de dormir tarde e isso nunca atrapalhou em nada. Foi assim que assistimos algumas partidas da NBA, de All-Star Game, de entrevistas do Jô, de episódios de Toma Lá Dá Cá, de A Grande Família, etc.

Saudade absurda da senhora. Aqui tá tudo bem, na medida do possível. Não tem estado muito fácil, pra ser sincero. Domingo que vem sua bisneta faz 5 anos mas, hoje, quando a bola subir às 22h, ela certamente já estará dormindo. E, assitindo uma partida lá em Indianápolis, uma cidade que a senhora nem fazia ideia que existia, eu vou tá aqui emocionado porque, por muito tempo, a senhora foi essa minha companhia numa paixão "boba."

Te amo, Dona Maria.

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