Liberdade (online) pode tornar nossos filhos uma geração mais doente?

João Lima
3 min readMay 24, 2023

Pai de um TDAH recentemente diagnosticado com TAB e diretor de uma pequena empresa de desenvolvimento, esses assuntos têm me pegado dia-sim, dia-também.

O US Department of Health and Human Services, através do Office of The Surgeon General, divulgou nessa terça (23.05) uma declaração sobre a saúde mental de jovens [PDF], na qual levantou pontos sobre influência das redes sociais nessa importante seara e fez sugestões iniciais do que podemos fazer enquanto sociedade.

O órgão ressalta como quase todo jovem (95% entre 13 a 17 anos de idade) usa uma “rede social” hoje e, que apesar da idade mínima de 13 anos ser requisito na maioria delas, 40% dos estadunidenses entre 8 e 12 usam uma dessas plataformas.

O documento deixa bem claro que ainda precisamos de mais dados e estudos, trazem os pontos positivos dessas redes (como jovens com interesses semelhantes compartilharem informações sobre esses temas) e também os pontos mais preocupantes.

Por exemplo: será que a influência das redes nos fez chegar no cenário atual de suicídio ser a 4ª causa de morte entre jovens homens de 15 a 29 anos (e a 3ª entre mulheres entre 15 e 19 anos!) — dados da OMS de 2021.

O relatório ainda fala da facilidade que os jovens hoje conseguem ter acesso a conteúdos extremos, impróprios e prejudiciais. Nesse momento, cita as diversas mortes de jovens que estão relacionadas a conteúdos publicados na redes, como os “desafios”, que via de regra aparecem e viram notícia em tudo que é lugar.

A situação é tão preocupante que, mesmo o presidente dos Estados Unidos, a terra que adora se vender como onde a liberdade é o maior bem que eles podem oferecer, Joe Biden, fez essa proposição no ano passado no State Of The Union (somente um discurso anual que o POTUS faz para os membros do Congresso):

Devemos responsabilizar as plataformas de mídia social pelo experimento [de âmbito] nacional que estão realizando em nossos filhos para [que elas tenham] lucro.”

(Pra quem tiver interesse no discurso completo, está o vídeo abaixo:

Mas então quer dizer que nosso Joe Biden simplesmente chamou de experimento o que essas plataformas fazem. Falou em responsabilizar as empresas (especialmente as Big Tech). Não é algo como dizer "Precisamos ver isso aí, hein!" O tema realmente chegou num nível de relevância prioritário pra quem realmente manda nas coisas.

Isso dá ideia do que tá em jogo e como começam a se montar as trincheiras. Depois do já citado documento do OSG, a Chamber of Progress, uma empresa lobbista que representa empresas de tecnologia, fez o apelo para que os legisladores do país não abram mão da privacidade na internet (fazendo o usuário dizer sua idade).

Mas que engraçado: as Big Tech sabem onde você está, onde você mora, onde sua mãe mora, onde seu cachorro nasceu, quanto você gastou no bolo de mesversário dele, o que você pesquisa, pensa em pesquisar, sonha em pesquisar. Mas, aparentemente, a idade é algo que a gente jamais pode saber para oferecer serviços adequados ao usuário do outro lado da tela.

Isso é muito maluco, né?

Espero que a gente possa debater num nível um pouco mais interessante. Que a Chamber of Progress continue apoiando novos estudos, como ela diz que faz, e que as organizações de saúde continuem se preocupando com nossas crianças. Que a gente possa se preocupar com nossa privacidade também, claro!

Provavelmente vamos ter que abrir mão de uma coisa aqui e acolá. Mas, sinceramente, parece ser a hora para isso, certo?

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