Como é engraçado o dia das crianças, penso eu ao sentar no sofá da sala para escrever umas palavras — que nem viriam pra cá — no final do dia. Em época de exposição de privacidade (aliás, algo completamente supervalorizado), meio mundo de gente vai às redes dizer como valoriza seu lado criança, lúdico, legal, maravilhoso, etc.
Tal qual o homem subterrâneo de Dostoiévski, penso na porcaria que é levar tudo a sério. Ser existencialista em pleno século 21, uma baita de uma besteira. Sei lá, tudo é realmente absurdo. Mas ao mesmo tempo é tão chato falar disso. Parece que tudo já foi dito, mas nada foi concluído.
Camus teria dito que o mundo não é absurdo, ou nem mesmo o ser humano. Só os dois juntos que dá essa loucura geradora de ansiedade nos subterrâneos.
O que é engraçado. Porque o homem não existe sem mundo e o mundo preciso da porra da nossa concepção pra ser um mundo. Ou seria simplesmente um pedaço de pedra flutuando no universo. É uma simbiose.
É muito bom ser criança. A gente não se preocupa com isso. Difícil é passar os 12 de outubro fingindo que isso não existe. Ou pior: tendo que fingir.
— —
Esse é mais um texto de qualidade duvidosa de um experimento meu de tentar simplesmente aceitar produzir qualquer coisa. Longe de querer ser o dono da razão, é somente um desabafo e uma tentativa de entender qual minha reação a esse desabafo. Ele é publicado porque acho que o escrutínio em coisas minhas sempre foi uma barreira e já passou da hora de superar isso.