Nem sei quando ouvi isso pela primeira vez. Se fosse tentar adivinhar quem me disse isso — ou pelo menos proferiu essa frase no mesmo espaço em que eu me encontra — provavelmente meu palpite seria minha amada vó Maria.
Fui até a varanada, taça de vinho já no final na mão. Abaixo, dois andares, meu quase-amigo (pai de um coleguinha de escola de Catarina, já saímos algumas vezes juntos, mas não dá pra dizer que somos amigos propriamente) mexe em qualquer coisa no celular. Numa sala apagada, tá ali vivendo o mundo dele.
Um andar abaixo somente, meu vizinho faz o mesmo. No ócio nada criativo, sentado na poltrona, num sábado à noite em casa, o senhor que aparenta ter algo perto dos 70 faz o mesmo. Desbloqueia o celular, procura alguma movimentação nova no WhatsApp e falha miseravelmente.
Eu observo e penso isso. Que loucura o mundo é. 7 bilhões de pessoas, cada uma nas suas coisinhas, em seus ambientes, fazendo qualquer coisa que seja. Eu não sei o que isso significa, e na verdade, penso que é só um pensamento estúpido consequência do vinho consumido nas últimas horas.
Cada pessoa de um jeito. Eu, Humberto dois andares abaixo, o senhor um andar abaixo, George Clinton do Funkdaelic que toca na caixa de som nesse momento. Cada pessoa produzindo sei lá o que dentro da cabeça e a gente tentando, há milhares de anos conviver como sociedade, em paz, certa harmonia e até em revoltas coletivas de tempos em tempos.
E, nesse momento, que a música troca para a deliciosa banda pernambucana que não sei que fim levou Suvaca diPrata, eu penso como é engrácado que eu ache um absurdo essa banda não ter estourado minimamente no cenário musical comercial. Eu acho absurdo, provavelmente Humberto não acha e o senhor do 8º muito menos.
E assim a gente vai. Cada cabeça, um mundo. Um mundo não, vários mundos. Um universo.
E amanhã é domingo!