João Lima
2 min readJan 27, 2021

A obviedade é algo que pode irritar. Acho que é por isso que tenho problemas pra escrever um texto pra homenagear Kobe numa data como essa.

Mas ao mesmo tempo, desde o dia 26 de janeiro de 2020 eu sentia algo como uma angústia que queria sair de mim, mas ainda não sabia como.

A gente vê todo mundo escrevendo histórias jamais publicadas, experiências incríveis e pensa: bem, não vou adicionar nada nesse rol de homenagens.

Kobe se tornou uma figura ainda mais mística e adorada depois que aposentou. Virtuoso, parecia que se ele decidisse descobrir a cura de uma doença grave, descobriria. Foi assim que levou um Oscar, foi assim que começou a treinar a filha e as amigas e foi assim que virou técnico de metade das novas estrelas da NBA.

Então minha experiência com ele é ser o não-Kobe.

Sentado numa pasmaceira de ser tão comum quanto qualquer outro ser humano, eu sempre me peguei pensando sobre como é esquisita a necessidade de um objetivo na vida.

Você entra numa escola (pra ter que tirar 10) e passa sua formação toda ouvindo que vai ter que decidir sua profissão (de uma vida toda) em breve. Você alcança a tão sonhada faculdade e, no fim dela, todo mundo pensa que, trabalhar numa multinacional de 45 mil funcionários é um começo e tanto pra quem tem 21 anos de idade.

E você, na verdade, não traçou nenhum daqueles objetivos. Ninguém nunca realmente quis entender o que você queria — incluindo você mesmo.

Por isso eu sou o não-Kobe. Talvez muitos de nós sejamos.

Eu não tenho a Mamba Mentality. Eu não tenho planejado tudo que quero fazer e, muito menos, como vou realizar tudo isso. Eu só sou um nota 6,5 que tenta resolver os problemas diários e viver uma vida calma.

Até perceber que eu talvez precise ser Kobe.

Talvez a mesmice de viver uma vida comum não seja o suficiente. O velho clichê de não saber até quando estamos nesse mundo se junta à descrença de que tenhamos outra chance de viver ou que vamos virar algo numa espécie de consciência cósmica depois que partirmos desse planeta. E aí a gente pensa, extremamente angustiado: por que não somos Kobe?

Eu ainda não sei o que quero. É normal. Eu nunca soube, talvez. Será que dá pra descobrir? Será que com a convicção de Kobe Bean Bryant eu me torne um ser humano mais feliz?

Eu acho que já estou um pouco mais realizado de escrever essas linhas de filosofia extremamente barata sem precisar cair na relevância de Kobe dentro de quadra, ou citar o conhecido caso no Colorado.

Talvez esse texto seja minha grande epifania. Desde que ele foi embora, eu sabia que tinha algo mal resolvido com meu ídolo de infância. Será que a mensagem dele tava lá desde o início e eu demorei tanto tempo pra resolver esse quebra-cabeça?

Kobe, amanhã eu vou sentar e pensar nisso. O que diabos eu quero? Isso é a tal Mamba Mentality né?

E depois você vai poder finalmente partir em paz.

Obrigado.

João Lima
João Lima

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